Faltam 10 dias e minha ansiedade pelo futuro tem se divido com pensamentos do passado. Dizem que saudade é lembrar com alegria de algo que não podemos reviver no momento. As melhores, ou talvez piores, saudades são daqueles momentos que não poderão se repetir ou ser vividos, principalmente porque as pessoas não poderão estar lá. Tenho sentido nestes últimos dias muitas saudades da minha avó Ieda. Quem convive comigo já deve ter percebido que tenho falado nela mais do que o comum.
De um tempo para cá, carrego sem tirar do dedo o anel que ganhei dela e do meu avô, Francisco, no meu aniversário de 15 anos. O anel que muitas vezes me perguntaram se seria uma aliança, quando eu ainda era solteira. Anel muito parecido com o que uma vez pedi emprestado a ela. Dedos gordinhos, com unhas longas e fortes, sempre feitas e com um belo esmalte, decorados por variadas alianças douradas, adquiridas nos longos anos de casamento.
- Vó, me empresta esse seu anel, pra eu ver como fica em mim!
Ela tira do dedo médio, me entrega, e eu logo coloco no meu indicador. Em menos de um segundo ela dispara:
- Não, se for pra usar anel de ouro em dedo de anel de bala, me devolve, aqui!
- O que é que tem, Vó?
- Não, não, me devolve, teu dedo é fino tu ainda vai perder a minha aliança!
Não uso nenhum tipo de anel no dedo indicador até hoje! Depois desse fato ela me deu esta aliança, que hoje faz par com a minha aliança com o meu amor, Wagner. Não consigo usar no dedo anelar, porque fica grande e acho que vindo dela é para ser usado no dedo médio, mesmo, porque usar no indicador, jamais!
O sentimento foi apertando quando, na última semana recebi a ligação da irmã da minha avó, tia Idenir, para falar da confirmação para o casamento. Parecia que eu estava conversando com a minha avó ao telefone e não com minha tia. A voz, parecida, me trouxe as melhores lembranças do passado, e por incrível que pareça, lembrança do futuro, do dia do casamento e da ausência dela. Chorei ao encerrar a ligação.
Outro dia meu pai falava ao telefone e eu escutava a conversa. Longa conversa, muito longa mesmo e ele não falava o nome de quem estava do outro lado. Eu pensei em brincar e perguntar para ele quando desligou: - Pai, estava conversando com a vó Ieda? Mas, curiosa como sou, apenas perguntei quem era e ele me respondeu que era a tia Irene, também irmã da minha avó (de quem meu pai é genro). Gelei e ri, que sexto sentido agitado!
Então comecei a pensar e tenho uma vaga lembrança dela fazendo elogios ao Wagner, do tempo em que éramos apenas amigos e nem pensávamos em ficar juntos. Era algo como me dizendo para me aproximar mais dele porque era muito bonito. É, minha avó sabia das coisas... No fundo somos egoístas e ficamos querendo que as pessoas não saiam nunca do nosso lado, mesmo quando o melhor é ir, descansar e realmente ter paz. Há tempos não sonho com ela, e sempre que tem sonho, é especial, é de luz.
Não sei, se como dizem, ela anda por aqui, mas que está nos meus pensamentos, isso sim! No casamento não decidi ainda se usarei este anel, mas usarei um par de brincos de ouro que também ganhei dela. Brinco, que por coincidência (ou não) perdi um dos pares, há dias atrás. Por sorte (ou outra coisa), encontrei o danado no fundo da bolsa, onde felizmente ele caiu.
Depois de todo esse ouro - anel de 15 anos, aliança de casamento, brinco - acredito que esse material sempre servirá de referência para lembranças da eternidade. Surgiu um sentido para o ditado em que "vão-se os dedos, ficam os aneis". E seguirá comigo sempre em meus dedos e em meu coração.
Um beijo, Manu
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